
O ser humano, bem como grande parte dos demais animais, sempre fez uso de plantas para as mais diversas finalidades, entre as quais a alimentação e a cura de moléstias e doenças. Na farmacopeia indígena americana entrava um grupo de plantas desconhecidas em outros continentes: as cactáceas.
A imensa família Cactaceae, com mais de 100 gêneros e inúmeras espécies, possui apenas um gênero que ocorre na África e ali somente algumas espécies: Rhipsalis. Tal gênero, no entanto, tem a maior parte de suas espécies na América, portanto, era em nosso continente que a diversidade florística da família era explorada.
Apenas para ilustrar a importância deste grupo, podemos citar a produção de frutos como a pitaia (espécies de Selenicereus) e o figo-da-índia [Opuntia ficus-indica (L.) Mill.], o uso como planta medicinal do mandacaru (Cereus jamacaru DC.) e da ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.), alucinogênico da mescalina obtida do peiote [Lophophora williamsii (Lem. ex J.F. Cels) J.M. Coult.] e o cultivo da palma-doce ou cacto-da-cochonilha [Opuntia cochenillifera (L.) Mill.], sobre a qual é criada a cochonilha (gênero Dactylopius), produtora de um corante natural vermelho. Isso, sem levarmos em conta o uso ornamental, tanto em projetos paisagísticos como em coleções.
A ora-pro-nóbis
Em uma época na qual o ser humano está muito mais preocupado com sua saúde e sua qualidade de vida, a ora-pro-nóbis ressurge do “saber popular” e tem comprovado, cientificamente, suas qualidades nutricionais e terapêuticas. É um alimento alternativo como fonte de proteínas, o que lhe atribui uma importância fenomenal na alimentação de crianças, idosos (cuja massa muscular vai sendo perdida a cada ano) e àquelas pessoas de alimentação mais vegetariana ou até mesmo vegana.
Além disso, devido à sua rusticidade, cresce com rapidez e robustez, em qualquer solo, tolera inúmeras podas e é bastante resistente a pragas e doenças, qualificando a espécie como um excelente alimento a populações de baixa renda.
Por não ser quase encontrada no mercado, pode ser também uma fonte de renda complementar para comunidades. A cozinha tradicional, especialmente de Minas Gerais, já faz pratos variados e saborosos com essa “hortaliça” e nota-se que cada vez mais estão surgindo novas receitas e novos trabalhos realizados com ela. Tortas, bolos, massas diversas, entre outras iguarias, tem se proliferado entre simpatizantes de uma cozinha mais salutar.
Também já se observa, em algumas escolas, a inclusão da ora-pro-nóbis na merenda escolar. Acredita-se, no entanto, que seu consumo só não é maior, pela sua baixa oferta nos mercados, o que deve ser repensado com certa urgência, face aos inúmeros produtos hortícolas produzidos com alto índice de insumos agrícolas e com preços muito altos. Associado às questões alimentares, a ora-pro-nóbis apresenta efeitos terapêuticos comprovados e deveria ser mais cultivada por aqueles apaixonados por “farmácias caseiras”.
Não bastassem tais qualificações, esta espécie forma uma belíssima e impenetrável cerca-viva. A beleza de sua folhagem dá lugar a uma floração exuberante, belíssima, cujas flores, além de beleza, são melíferas, portanto, alimentos de diversas abelhas.
A frutificação, quando intensa, também contribui para o efeito ornamental da espécie, devido aos inúmeros frutos perfeitamente esféricos, amarelo-alaranjados, que também podem ser tornar alimentos para o ser humano e inúmeros outros animais.
Confira mais informações no link que segue.
A Cartilha
No 83 - Plantas medicinais: ora-pro-nóbis
Autores: Vinicius Nicoletti e Lindolpho Capellari Júnior
Número de páginas: 25
https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1360
Texto: Alicia Nascimento Aguiar | MTb 32531 | 03.08.2025