Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
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nas análises de contaminação do mel, do pólen e
das abelhas, em relação à distância da fonte de
lançamento do agrotóxico. Serão realizados três
testes distintos, já que as análises de resíduos em
cada matriz representam um conjunto diferente de
dados.
6.4 Medidas a serem adotadas para
reduzir ou eliminar os riscos potenciais
diagnosticados durante um estudo de
monitoramento em abelhas
A contaminação das abelhas por agrotóxicos
dá-se, geralmente, durante a atividade de forrageio,
na ocasião da coleta de néctar e de pólen, e pode
atingir a colônia (JAY, 1986). Em geral, quanto maior a
densidade e a atratividade das flores abertas contami-
nadas pelo uso de defensivos, no pleno florescimento,
maior a taxa de visitação e, consequentemente, a
de contaminação (RIELD et al., 2006). Para a realiza-
ção do monitoramento proposto e também como boa
prática na agricultura, medidas de redução de risco
podem ser adotadas para minimizar os impactos dos
agrotóxicos sobre os polinizadores em geral.
Outro fator muito influente na taxa de con-
taminação é o tamanho da área pulverizada num
único lapso de tempo (FREE, 1993), por isso não
se deve pulverizar a cultura-alvo com pesticidas
de longo efeito residual (PINHEIRO; FREITAS,
2010). De acordo com Johansen e Mayer (1990),
as pulverizações devem se basear no tempo resi-
dual (RT) de cada substância para garantir a se-
gurança para as abelhas e a eficácia do produto
contra as pragas. Para tanto, esses autores de-
senvolveram experimentos conduzidos em con-
dições de semicampo e campo, onde colmeias
em caixas racionais foram expostas a uma dieta
contaminada por doses conhecidas de diferentes
agrotóxicos, para determinar o tempo necessário
de degradação residual do inseticida e causar a
morte de 25% das abelhas contaminadas (RT
25
),
ou RT
40
que mostra o tempo da morte de até 40%
das abelhas testadas.
Seguindo esses critérios, é possível indicar o
período do dia no qual os pesticidas devem ser uti-
lizados e a criação de programas para uso racional
dessas substâncias. Pulverizações com inseticidas
de RT
25
de até 2 horas oferecem mínimo risco, desde
que não sejam aplicadas quando as abelhas estive-
rem em forrageamento intensivo (PINHEIRO; FREITAS,
2010). No caso dos inseticidas com RT25 de até 8
horas, o ideal é que as aplicações sejam feitas duran-
te o crepúsculo; as com RT
25
maior que 8 horas não
oferecem segurança, podendo afetar drasticamente
a atividade de forrageamento das abelhas operárias.
Outro fator que deve ser levado em conside-
ração para determinar o momento de pulverização
nas lavouras é o período de atividade das abelhas
encontradas na região e a influência do clima e suas
variações sobre estas, o que indica a necessidade
de pesquisas sobre a biologia das espécies nativas.
Para um mesmo período do dia, maior taxa de visita
das abelhas às flores pode ocorrer sob condições
de temperaturas mais amenas (JOHASEN; MAYER,
1990).
Para temperaturas noturnas mais elevadas,
igual ou acima de 21 °C, que induzem as abelhas de
colônias muito populosas a se aglomerarem na entra-
da da colmeia, a fim de promover o resfriamento inter-
no, à deriva de inseticidas aplicados naquele horário,
pode causar severas baixas (FREE, 1993). Isso pode
ocorrer com frequência em grandes regiões produ-
toras de melão no Nordeste brasileiro, onde os agri-
cultores fazem aplicações noturnas com produtos de
maior toxicidade (PINHEIRO; FREITAS, 2010).
É importante também que se conheça o perío-
do de tempo que cada cultura permanece com suas
flores abertas, pois isso varia de região para região e
permite definir quais os picos de coleta de néctar e de
pólen para cada espécie (FREITAS; PEREIRA, 2004).
O potencial de toxicidade varia de acordo com
as condições ambientais para um mesmo ingrediente
ativo, principalmente em função da temperatura e da
umidade relativa do ar. Pesticidas aplicados duran-
te períodos frios oferecem maior risco residual
(JOAHANSEN; MAYER, 1990). Efeitos imediatos po-
dem ser mais evidentes em altas temperaturas, devido
ao seu menor efeito residual, em função da quebra mais
rápida do ingrediente ativo tóxico (RIELD et al., 2006).
Outro fator que condiciona o potencial de to-
xicidade é a formulação dos pesticidas (PINHEIRO;
FREITAS, 2010). A diferença de toxicidade está rela-
cionada com a forma como o ingrediente ativo é cap-
tado por meio dos pelos ramificados e outros pelos
adaptados para a coleta de pólen, distribuídos ao lon-