Abelhas no Brasil.indd - page 39

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O
s
agrotóxicos
e
seus
efeitos
nas
abelhas
Atualmente, a densidade populacional de mui-
tos polinizadores está sendo reduzida a níveis que
podem interromper os serviços de polinização nos
ecossistemas naturais e agrícolas, além de com-
prometer a manutenção da capacidade reprodutiva
das plantas silvestres (KREMEN, 2004). Os níveis
de polinização insatisfatórios são um dos principais
responsáveis pela redução da produtividade das cul-
turas, particularmente daquelas que dependem de
agentes polinizadores como as abelhas (FREITAS;
PINHEIRO, 2010).
Segundo De Jong (2000), a estimativa de va-
loração das abelhas nos Estados Unidos é superior
a 10 bilhões de dólares. No Brasil, apenas oito cul-
turas dependentes de polinizadores (melão, café,
maracujá, laranja, soja, algodão, maçã e caju) são
responsáveis por US$ 9,3 bilhões em exportações
(FREITAS; IMPERATRIZ-FONSECA, 2004). No entan-
to, as poucas informações disponíveis no País sobre
a dependência de polinização de diversas culturas
agrícolas e plantas silvestres de importância eco-
nômica ou social, especialmente variedades locais
e espécies nativas, polinizadores efetivos, eficiência
de polinização e resposta econômica à polinização,
não permitem qualquer estimativa precisa do valor
da polinização para as culturas agrícolas brasileiras,
nem o que se perde com os possíveis níveis de poli-
nização inadequados atuais (FREITAS; IMPERATRIZ-
FONSECA, 2004).
Entre as principais causas do declínio dos polini-
zadores, sobretudo nas áreas agrícolas, está o uso ina-
dequado de práticas de cultivo, com a utilização abusi-
va de pesticidas, principalmente nas extensas áreas de
monocultivo (FLETCHER; BARNETT, 2003; FREITAS et
al.
,
2009). O consumo anual de agrotóxicos no País é
superior a 300 mil toneladas de produtos formulados.
Expresso em ingredientes ativos, representam mais
de 130 mil toneladas de consumo anual desses pro-
dutos químicos. Nos últimos 40 anos, o consumo de
agrotóxicos aumentou 700% enquanto a área agrí-
cola cresceu apenas 78% (SPADOTTO et al., 2004).
O uso indiscriminado e irracional de agrotóxicos nos
agroecossistemas, especialmente de inseticidas,
pode ocasionar o desequilíbrio da população de
abelhas que visitam esses locais (MALASPINA et al.,
2008).
Além dos efeitos de toxicidade aguda, que
ocasionam a morte das abelhas, os inseticidas po-
dem provocar alterações comportamentais nos indi-
víduos e, ao longo do tempo, ocasionar sérios preju-
ízos na manutenção da colônia (MALASPINA et al.,
2008).
Alguns comportamentos das abelhas podem
fornecer indícios de que a colmeia está sendo afeta-
da por substâncias tóxicas, tais como:
• grande número de abelhas mortas nas proximi-
dades das colônias (PINTO; MIGUEL, 2008);
• decréscimo na produção de progênie (HAY-
NES, 1998);
• diminuição da atividade de forrageamento
(WALLER et al., 1979; HASSANI et al., 2005);
• irritabilidade excessiva (COX; WILSON, 1984);
• autolimpeza excessiva (COX; WILSON, 1984);
• incapacidade de substituição da rainha (STO-
NER et al., 1985);
• mortalidade das larvas (DE WAEL et al., 1995);
• má formação das larvas (ATKINS; KELLUN,
1983).
As pesquisas sobre tais comportamentos fo-
ram realizadas com
Apis mellifera
, mas seus resul-
1...,29,30,31,32,33,34,35,36,37,38 40,41,42,43,44,45,46,47,48,49,...88
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