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« Previous Page Table of Contents Next Page »Ano XI Número 38 dezembro/2014 4
Alternativa vencedora
TEXTO Caio Albuquerque
Uma vespinhaminúscula, de olhos verme-lhos, percorre grandes distâncias, atraída por substâncias químicas presentes em escamas de asas de mariposas que caem sobre os ovos que acabamde ser colocados. Então esses ovos são parasitados pela vespinha cientificamente deno-minada Trichogramma , impedindo o nascimen-to de lagartas que, geralmente, atuamcomo pra-gas agrícolas de efeito devastador. Esse é o prin-cípio natural que originou umvitorioso progra-ma de controle biológico nascido na década de 1980, na Escola Superior deAgricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ).
A vespinha começou a ser alvo de atenção em 1926 e ainda na década de 1930 pesquisas começarama ser conduzidas noRio de Janeiro, visando ao controle de pragas de tomateiro. Em 1982, o pesquisador francês JeanVoegelé visi-tou o Departamento de Entomologia e Acaro-logia (LEA) da ESALQ, paraministrar umcur-so sobre controle biológico a partir de
Trichogramma . Na ocasião, o professor José RobertoPostali Parra se entusiasmou. “Por conta daquela visita eu acabei tambémvisitando a es-tação experimental emAntibes, na França, para conhecer o trabalho doVoegelé e, naminha vol-ta, começamos a pesquisar o tema”, conta. Dois anos depois, de forma sistemática, o Departa-mento incorporou a proposta de criar um pro-grama consistente. “Em 1984, projetamos um programa completo, a partir do envolvimento de uma equipe multidisciplinar na área de entomologia. Organizamos umprograma a lon-go prazo, que tinha começo meio e fim, que incluía trabalhos emvárias frentes, como a bio-logia, a taxonomia, a ecologia e o próprio estu-do com agroquímicos afetando as vespinhas.A equipe assimdesempenhou as tarefas de coleta do inseto, identificação, depois partimos para a criação em larga escala e como liberar no cam-po, até chegarmos a um modelo que resultou emuma relação custo benefício positiva”.
Em2014, o programa de controle biológico com Trichogramma completa 30 anos e, após muitos estudos, foram obtidos bons resultados de controle de pragas emdiversas culturas. “Gra-ças aos avanços obtidos, o agricultor brasileiro que temuma cultura de agroquímicos, começa a entender, depois de três décadas, porque usar um inimigo natural tão pequeno e tão difícil de ser visualizado”.
A despeito de todos os problemas encon-trados para o uso de controle biológico, gran-des áreas têm sido tratadas para controle de
Diatraea saccharalis em cana-de-açúcar com
Trichogramma galloi , em 500 mil ha e mais recentemente para Helicoverpa armigera e
Chrysodeixis includens em soja, onde cerca de 250mil ha foram tratados na safra 2013 – 2014. “Esses números poderão aumentar se houver disponibilidade do insumo biológico, com po-tencial de uso emmaior escala em algodoeiro, milho, frutíferas, feijoeiro, para os quais o
Trichogramma já é utilizado, mas ainda aquém do esperado”, complementa Parra.
Pessoal e publicações - Umvolume grande de publicações sobre o assunto (livros, boletins, resumos de congressos, teses, dissertações, pu-blicações em periódicos nacionais e internacio-nais) possibilitaram grandes avanços na área de controle biológico. Só o professor Parra orientou mais de trinta dissertações e teses sobre o tema. “Formamos recursos humanos, desde estudan-tes que fizeram iniciação científica até pós-doc, que depois foramaplicar essemodelo emmuitos estados brasileiros enaAméricaLatina”.NoBra-sil, existem empresas que comercializam o parasitoide. Uma delas, a BugAgentes Biológi-cos, originou-se na ESALQ.
Futuro – No Programa de Pós-graduação emEntomologia da ESALQ,AloisioCoelho Jr. desenvolve sua tese a partir da utilização de marcadoresmitocondriais para comprovação do desempenho, em campo, de linhagens de
Trichogramma pretiosum selecionadas em la-boratório. “A importância da genética para a aplicação do controle biológico vem sendo ob-jeto de muitas teorias. Contudo, enquanto im-portantes experimentos de laboratóriomostram que os princípios gerais da genética de popula-ções de fato aplicam-se a agentes de controle biológico, poucos trabalhos foram realizados em condições de campo”, afirma Coelho. A pesquisa deAloisio é uma parceria en-tre a ESALQ e a Universidade da Califórnia-Riverside, EUA, e propõe determinar a influ-ência da seleção de laboratório sobre o de-sempenho em campo de diferentes linhagens de Trichogramma pretiosum . “Existe uma população natural de Trichogramma no cam-po, mas insuficiente para atender a demanda agrícola, então temos que adicionar as popu-lações de laboratório e, muitas vezes, como são criadas em hospedeiro alternativo, existe o questionamento sobre o comportamento desse inseto e sua eficiência no campo. Então oAloiso faz marcações moleculares para de-pois verificar no campo se aquele inseto que está combatendo as pragas é o mesmo que ele liberou. Estamos certificando que o inseto de laboratório é realmente competitivo em cam-po”, comenta Parra.
Ainda existemobstáculos, mas o professor Parra fala comentusiasmo sobre a ampliação do controle biológiconas lavouras brasileiras. “Tem muitos aspectos a serem aperfeiçoados, mas o potencial é enorme. Se bemaplicado, o controle biológico, seja com Trichogramma ou outros inimigos naturais, possibilita desempenho equi-valente ou superior ao controle químico. Entre outras razões, temumcusto comparável ao quí-mico, alémde trazer vantagens ambientais, eco-lógicas e sociais sem precedentes. As próprias multinacionais enxergam isso, elas estão com-prando empresas de controle biológico e en-trando nomercado”, finaliza.
P c c
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